Desafios geracionais, missão e compromisso social: a visão do Pr. José Martins de Calais Junior

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Líder do Ministério Coronel Fabriciano-Ipatinga destaca a importância do discipulado, da ação social e da postura equilibrada diante dos desafios políticos e espirituais do Brasil.

Pastor José Martins, como enxerga esse cenário atual marcado por tantas diferenças geracionais dentro da igreja?
Vivemos um tempo em que várias gerações coexistem dentro da mesma comunidade de fé. Cada uma delas tem valores, linguagens e formas de se expressar, mas todas podem contribuir para o crescimento da igreja. Para mim, o maior desafio não é a diferença, mas a falta de compreensão dessas diferenças. Quando entendemos que cada geração carrega marcas do seu tempo e que todas são importantes, conseguimos caminhar em unidade.

Cada geração carrega marcas de seu tempo. Como o senhor avalia as principais características dos Baby Boomers, da Geração X, dos Millennials e da Geração Z no convívio da comunidade cristã?
Os Baby Boomers são marcados pela fidelidade, constância e disciplina; a Geração X carrega o espírito de adaptação, já que viveram muitas transformações sociais e tecnológicas; os Millennials trazem consigo o desejo de propósito e sentido naquilo que fazem; e a Geração Z, que já nasceu digital, tem uma mente muito aberta e conectada, mas também enfrenta ansiedades e pressões próprias do mundo atual. Quando todas essas características se unem na igreja, o corpo de Cristo se fortalece.

Quais são os maiores desafios que o senhor percebe em manter a unidade e a comunhão entre gerações tão diferentes?
O maior desafio é evitar os rótulos. Quando classificamos demais, criamos barreiras. O segredo é valorizar as diferenças como complementares e não como opositoras.

Que estratégias a igreja tem adotado para atender às demandas espirituais e sociais de cada faixa etária?
Temos ministérios voltados para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Além disso, mantemos escolas bíblicas, seminários e congressos específicos. Cada faixa etária tem sua forma de aprender e se expressar, e a igreja precisa dar espaço para todas.

A tecnologia é uma ponte ou uma barreira no relacionamento entre as gerações na igreja? Como o ministério tem usado as redes sociais e os meios digitais para se comunicar com os mais jovens?

A tecnologia pode ser tanto uma ponte quanto uma barreira. Se usada com sabedoria, torna-se uma ponte poderosa. Nós utilizamos redes sociais, transmissões ao vivo e conteúdos digitais para alcançar os mais jovens, mas também incentivamos que isso nunca substitua o encontro presencial e o discipulado pessoal.

Na sua visão pastoral, como a igreja pode preparar hoje as novas gerações para que no futuro também saibam lidar com essa diversidade etária?
A resposta é simples: discipulado. Se investirmos hoje no ensino bíblico sólido e na comunhão, os jovens aprenderão a valorizar tanto as tradições quanto as inovações.

Os pastores estão preparados para lidar com estas diferentes gerações?
Estamos em processo de aprendizado constante. Um pastor que não estuda, não ouve e não se atualiza terá dificuldades. Eu acredito que Deus tem levantado líderes preparados, mas precisamos nos manter sempre atentos às mudanças.


Investimento no Social

Pastor, em relação ao investimento social, a igreja tem atuado fortemente nessa área. Como o senhor define a importância desse braço social dentro do Ministério?
Nós criamos a Secretaria de Assistência Social, que coordena a participação de todas as igrejas do Ministério. Elas contribuem com donativos, recursos financeiros e diversos tipos de ajuda. A partir disso, conseguimos atender instituições importantes, como casa de idosos que trabalha com serviço de alta complexidade, creches, o centro de recuperação Moriá, e ajudamos outros, como Missão Resgate, COTEBALGI – Comunidade Terapêutica Bálsamo de Gileade e também a CEF, que presta apoio a filhos de pessoas presas e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Algumas dessas entidades são mantidas diretamente por nós; outras recebem apoio constante do nosso Ministério. Posso afirmar que o trabalho social da Assembleia de Deus é intenso. Talvez divulguemos pouco, mas fazemos muito na área da assistência social, ajudando quem realmente precisa.

Quais são os principais projetos sociais que a igreja desenvolve atualmente? Ação Evangélica de Amparos aos Necessitados de Ipatinga, Comunidade Terapêutica – Moriá, CEPAR – Centro Educacional Pastor Antônio Rosa, CRECHE LÍRIO DOS VALES – Associação Evangélica Beneficente do Melo Viana.

Quem são os públicos atendidos por esses trabalhos?
Alcançamos todos os públicos: crianças, adolescentes, jovens, famílias e idosos. Nosso foco é atender àqueles que mais sofrem e que, muitas vezes, não têm apoio de nenhum outro órgão.

De que forma esses projetos são estruturados e financiados? Há parcerias com entidades públicas ou privadas?
Grande parte vem da contribuição voluntária dos membros. Também temos parcerias com empresas e, em alguns casos, apoio de órgãos públicos. Mas a base é a solidariedade da própria igreja.

Como os membros da igreja têm se envolvido com essas ações? Existe uma mobilização voluntária significativa?
Sim, e isso é maravilhoso. Temos uma rede de voluntários que doam tempo, recursos e talentos para servir. Isso fortalece não só os atendidos, mas também a fé de quem serve.

Qual o impacto que esses trabalhos têm trazido para a comunidade local e também para o próprio crescimento espiritual da igreja?
O impacto é visível. Famílias são restauradas, vidas são transformadas. E dentro da igreja, os membros crescem em compaixão e entendimento, o que é viver o evangelho na prática.


Missões

Pastor José Martins, o senhor já esteve no campo missionário em diferentes países. Quais foram as principais lições que o senhor trouxe dessas experiências?
A maior lição é que o evangelho é universal. Ele serve a todas as culturas, idades e povos, mas deve ser apresentado de forma contextualizada. Aprendi a respeitar as diferenças e a valorizar cada pessoa.

Olhando para trás, o que mais marcou o senhor durante o período missionário: os desafios enfrentados ou os frutos colhidos?
Os frutos colhidos. Igrejas que plantei há mais de 25 anos continuam firmes até hoje. Isso prova que o trabalho não foi em vão.

De que forma essa vivência missionária influenciou seu ministério atual como presidente de um grande campo?
Tudo que faço é influenciado pela visão missionária. Penso em plantar igrejas, formar obreiros e enviar missionários. Essa é a essência do meu ministério.

O senhor acredita que a visão missionária adquirida fora do Brasil ajuda a enxergar de maneira diferente a liderança local?
Sem dúvida. Quem experimenta culturas diferentes aprende a ser mais tolerante, mais sábio nas decisões e mais ousado na fé.

O Ministério Coronel Fabriciano e Ipatinga, nesses quase dez anos de liderança, tem crescido?
Graças a Deus, sim. Plantamos e inauguramos muitos templos, adquirimos terrenos e não tivemos nenhum ano de perda. Sempre avançamos mais do que retrocedemos.

Que conselhos o senhor daria aos jovens que sentem o chamado missionário, mas ainda têm receio de se lançar nesse desafio?
Primeiro: leiam a Bíblia e orem muito. Deus fala através da Palavra. Segundo: estudem. Hoje temos cursos teológicos acessíveis, como a EETAD. Deus não chama preguiçosos. Quem tem chamado precisa se preparar.

Qual é a importância da igreja brasileira investir mais em missões internacionais e também locais?
O Brasil recebeu muitos missionários no passado. Hoje temos a responsabilidade de enviar. Missão não é gasto, é investimento eterno.

Qual a marca mais profunda que o senhor carrega dos trabalhos missionários transculturais até hoje?
A marca, é ver igrejas plantadas em culturas totalmente diferentes e saber que elas permanecem de pé até hoje. Isso é uma vitória para o reino de Deus.

Como presidente de um grande campo, qual é a sua visão sobre o futuro das missões e o papel da igreja nesse contexto global?
Vejo que a igreja precisa entender que quem investe em missões nunca perde. Nosso futuro depende de quanto estamos dispostos a obedecer ao “Ide” de Jesus.


Política no contexto atual e o papel da igreja

Pastor José Martins, o Brasil atravessa um período político bastante conturbado. Como o senhor enxerga esse cenário atual?
A política em si não é o maior problema, mas sim a interferência indevida entre os poderes, especialmente do Judiciário sobre o Executivo e o Legislativo. Isso gera insegurança para a democracia.

Em sua visão, qual deve ser a postura da igreja diante das polarizações e conflitos políticos que temos vivido?
A igreja precisa orar e se posicionar. Não podemos ser partidários, mas como cidadãos temos o direito e o dever de expressar nossas opiniões.

A igreja deve se manifestar publicamente em questões políticas ou manter uma posição mais neutra? Por quê?
Deve se manifestar, sim, mas com equilíbrio. Não para fazer campanha, mas para defender princípios. O silêncio pode custar caro.

O senhor acredita que os cristãos devem participar ativamente da política partidária ou apenas influenciar a sociedade por meio de valores e princípios?
Eu acredito que precisamos dos dois. Há cristãos vocacionados para a política e devem servir ali com integridade. Mas todos os cristãos, mesmo fora da política, têm o dever de influenciar a sociedade com os valores do evangelho.

Muitos fiéis têm dúvidas sobre até onde a igreja pode ir ao abordar temas políticos. Onde está o limite?
O limite é a politicagem. Falar de princípios, justiça, cidadania é nosso dever. Mas usar o púlpito para campanha ou se corromper em troca de favores, é ultrapassar a linha.

Na prática, como os líderes religiosos podem orientar os membros da igreja a exercerem sua cidadania sem transformar o púlpito em palanque?
Orientando nos bastidores, em conversas pessoais e com ensino bíblico. O púlpito é lugar de adoração, não de política.

Para finalizar, qual mensagem o senhor deixaria para os cristãos que se sentem confusos diante do cenário político atual e buscam direção espiritual?
Confiem em Deus, orem, busquem orientação pastoral e mantenham a fé. Não sigam vozes perdidas, mas procurem líderes espirituais de confiança.

Curiosidade

Pastor José Martins, o Ministério Coronel Fabriciano-Ipatinga fez um grande investimento na matriz em Coronel Fabriciano, hoje tem condições de receber convenções e grandes eventos. E qual o projeto para Ipatinga?
Nós estamos trabalhando para isso. Fizemos um grande investimento em Coronel Fabriciano, onde hoje acontecem as convenções e os grandes eventos do nosso ministério. Já em Ipatinga, ainda não temos uma área que comporte uma estrutura do porte de Fabriciano. O crescimento da obra aqui em Ipatinga, foi muito significativo, mas falta-nos um terreno maior. Estamos batalhando e orando por essa aquisição. Ainda não conseguimos, mas acreditamos que muito em breve Deus nos dará esse presente. Portanto, existe sim um projeto, e estamos trabalhando para que ele se concretize.

Suas considerações finais
Quero agradecer a você, jornalista Josimar, pelo trabalho e persistência. Ser jornalista no Brasil não é fácil. E quero reforçar que a nossa igreja está empenhada em evangelização, cruzadas, congressos, escolas bíblicas e formação de novas gerações. Vamos seguir trabalhando com afinco naquilo que Deus nos confiou.

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