Israel vive expectativa de retorno dos reféns entre esperança e angústia

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Famílias dos reféns israelenses mantidos pelo Hamas em Gaza em protesto pedindo o fim da guerra e o retorno de seus entes queridos (Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN)

O clima em Israel é de expectativa e apreensão desde que entrou em vigor a primeira fase do plano de paz proposto pelo presidente americano, Donald Trump, que prevê a libertação dos sequestrados após dois anos de conflito.

Famílias de reféns israelenses mantidos pelo Hamas em Gaza se reuniram em protesto nesta semana, pedindo o fim da guerra e o retorno de seus entes queridos. O clima em Israel é de expectativa e apreensão desde que entrou em vigor a primeira fase do plano de paz proposto pelo presidente americano, Donald Trump, que prevê a libertação dos sequestrados após dois anos de conflito.

Segundo o acordo, o Hamas tem até a próxima segunda-feira (13) para entregar os reféns. Acredita-se que 20 pessoas ainda estejam vivas e possam ser libertadas neste fim de semana, enquanto outros 28 são considerados mortos. Os corpos também devem ser devolvidos a Israel nos próximos dias.

Rafael Azamor, representante do Fórum das Famílias dos Sequestrados e Desaparecidos para o Brasil, relatou à Gazeta do Povo a tensão e o sofrimento das famílias durante a espera.

“As famílias vivem uma montanha-russa emocional. Há sinais positivos com o acordo e as negociações, mas o tempo que passou — dois anos em condições extremas — naturalmente alimenta o medo”, afirmou.

Azamor explica que o sentimento predominante é uma mistura de otimismo cauteloso e receio profundo, já que não há informações concretas sobre o estado físico e psicológico dos reféns.

“Mesmo com a libertação, o pesadelo não termina ali. Muitos ex-reféns enfrentam traumas severos, problemas de saúde e um longo processo de reintegração à vida normal. Não existe um botão de ‘reset’ que apague dois anos de sofrimento”, destacou.


Celebração após o anúncio de um acordo de paz na Praça dos Reféns em Tel Aviv, Israel. Crédito: EFE/ Abir Sultão (Foto: EFE/ Abir Sultão)

Plano de paz e cessar-fogo supervisionado pelos EUA

A primeira fase do acordo prevê a libertação de todos os reféns mantidos na Faixa de Gaza. Em contrapartida, Israel se comprometeu a libertar cerca de dois mil prisioneiros palestinos, incluindo integrantes do Hamas e da Jihad Islâmica.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) também recuaram até uma linha previamente acordada com o grupo terrorista, mantendo, contudo, presença limitada dentro do enclave.

O cessar-fogo, que entrou em vigor nesta sexta-feira (10), será supervisionado por uma missão militar dos Estados Unidos, composta por cerca de 200 soldados, segundo informou a emissora americana ABC News. Eles atuarão em território israelense, sem entrar em Gaza.


Reféns receberão suporte médico e psicológico

Assim que retornarem a Israel, os reféns passarão por uma triagem médica e psicológica completa.

“Eles são submetidos a exames clínicos, avaliações nutricionais e, talvez o mais importante, acompanhamento psiquiátrico. Muitos podem ter sofrido tortura, privação sensorial ou violência sexual”, relatou Azamor.

Segundo ele, não é incomum que reféns libertados apresentem choque ao reencontrar suas famílias.

A reintegração social e familiar também requer cuidados especiais. “O refém muitas vezes volta transformado, com uma carga emocional que o distancia da imagem que a família manteve viva por anos. Esse descompasso pode gerar frustrações e silêncios dolorosos”, explicou.

Para isso, o governo israelense mantém equipes multidisciplinares de apoio, com psicólogos, terapeutas e assistentes sociais, além de oferecer acompanhamento de longo prazo, programas de realocação e suporte financeiro.


Caso Michel Nisenbaum e críticas ao governo brasileiro

Embora não haja brasileiros entre os reféns prestes a serem libertados, Rafael Azamor relembrou o caso de Michel Nisenbaum, cidadão brasileiro-israelense sequestrado e assassinado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, quando tentava buscar sua neta de quatro anos.

O corpo de Nisenbaum permaneceu em Gaza até maio de 2024, quando foi recuperado por Israel.

O governo brasileiro, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), divulgou na ocasião uma nota lamentando a morte e afirmando que continuaria “lutando pela libertação de todos os reféns”.

No entanto, Azamor afirma que as ações diplomáticas de Lula foram “pouco percebidas” pelas famílias.

“A filha e a irmã de Michel expressaram frustração com o silêncio do governo. Elas foram recebidas por Lula dois meses após o massacre, mas não houve retorno, acompanhamento ou atualização, nem mesmo após a confirmação da morte. Isso deixou a família com uma amarga sensação de abandono”, disse.

Desde o início do conflito, Lula tem criticado duramente as operações militares israelenses em Gaza, classificando-as como “genocídio” — declarações que foram elogiadas publicamente pelo Hamas.


Entre a dor e a esperança

Com a aproximação do prazo final para a entrega dos reféns, Israel vive um dos momentos mais sensíveis desde o início da guerra. Nas praças e sinagogas, orações, vigílias e manifestações se multiplicam.

Para as famílias, cada minuto de espera é um misto de fé, angústia e incerteza. Como resume Azamor:

“O retorno dos reféns, vivos ou mortos, será apenas o começo de uma nova e complexa etapa. A esperança continua sendo o fio que sustenta essas famílias.”

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