Médica denuncia situação em hospital de campanha no RJ

Ela pediu demissão após primeiro dia de plantão por falta de condições

Uma médica contratada para atuar no Hospital de Campanha do Maracanã, no Rio de Janeiro, pediu demissão no primeiro dia de trabalho. Segundo a anestesista Priscila Eisembert, não havia condições de trabalho. Ela denunciou a precariedade da unidade de saúde.

– Tem muito profissional querendo trabalhar […] mas infelizmente não dá pra ter estômago pra ver essa atrocidade. O médico, infelizmente, não faz milagre. Ele precisa ter o mínimo pra trabalhar. Aquilo é um CTI de fachada. Não tem nem o mínimo de um CTI – afirmou a médica ao portal G1.

Ela conta que a unidade de saúde sequer tinha medicações para os pacientes.

– Conforme as intercorrências foram acontecendo e eu fui examinando individualmente cada paciente e cada medicação que eu precisava fazer, eu fui descobrindo que não tinha. Eu tive problemas com todos os pacientes. Um dos casos foi um paciente que recebi por Covid-19 com arritmia cardíaca importante, com a frequência cardíaca de 160, e eu precisava baixar a frequência e não tinha medicação – destacou.

A anestesista também conta que no seu único dia de trabalho dois pacientes morreram. Segundo ele, a falta de medicações e equipamentos pode ter custado a vida dos infectados.

– Foi um paciente jovem, que eu precisei mudar o tubo dele, que tava furado. O tubo que fica da boca pra traqueia que fica acoplado ao ventilador mecânico, que faz ele respirar. E a parte que veda tava furada. Isso acontece e eu tive que trocar. E não tinha relaxante muscular. A sociedade de anestesiologia, a sociedade de medicina, deixam claríssimo que a gente tem que entubar o paciente com relaxamento muscular. Eu demorei um pouco mais porque tava muito difícil a entubação dele e ele acabou parando. Veio a óbito – revelou.

Eisembert denunciou também a falta de exames clínicos básicos para um internado em UTI e até a ausência de fitas de testagem de diabetes.

– A gente estava há doi dias sem nenhum exame laboratorial no sistema. Cheguei a ligar para o laboratório e me foi informado que iriam corrigir e que não podiam imprimir e trazer no setor pra mim. Ela não tinha autorização também pra passar via telefone. Pacientes do CTI precisam ter rotina laboratorial diária. E esses pacientes do hospital de campanha estavam há mais de dois dias sem nenhum exame de sangue. Não tinha também fita pra testar o diabete – afirmou.

Funcionária do Sistema Único de Saúde há 10 anos, a médica afirmou que está acostumada a trabalhar com estruturas precarizadas. No entanto, a realidade dos hospitais de campanha tem se mostrado mais difícil do que em hospitais comuns.

Comunicar erro – Gabriela Doria – 23/05/2020 15h33 | atualizado em 23/05/2020 16h16

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *