Os pentecostais e a sua identidade arminiana

(Foto: Unsplash/Priscilla Du Preez)
Os pentecostais são conhecidos como o movimento que enfatiza as experiências de poder do Espírito Santo.
Toda igreja possui um credo ou fundamento doutrinário que caracteriza a denominação ou a igreja local. Segundo o teólogo Alberto Fernando Roldán, “a igreja de Jesus Cristo é chamada a analisar a sua fé e sua prática, e isso à luz da revelação de Deus que é sua Sagrada Escritura” (ROLDÁN, 2007, p.39). Embora muitos líderes não achem importante conhecer a sua identidade teológica e aceitam qualquer tipo de “novidade e inovações” sem critério algum, é de suma importância conhecermos as nossas raízes. A História da Igreja nos ensina lições importantes para buscarmos e fortalecermos os posicionamentos teológicos, para termos uma igreja sadia e não sermos presas fáceis das heresias.
Os pentecostais são conhecidos como o movimento que enfatiza as experiências de poder do Espírito Santo, que é definido na Teologia Pentecostal como batismo no Espírito Santo e atualidade dos dons espirituais. O pesquisador pentecostal Donald Dayton afirma que “o pentecostalismo lê o Novo Testamento pelos olhos de Lucas, especialmente com as lentes do livro dos Atos dos Apóstolos” (DAYTON, 2018, p.54). Corroborando com Dayton, Dr. Robert Menzies destaca que “a hermenêutica do crente pentecostal típico é direta simples: as histórias em Atos são minhas histórias” (MENZIES, 2016, p.22). Mas no aspecto soteriológico (salvação), qual seria o seu posicionamento? O movimento em si é grande e complexo na sua amplitude e magnitude, não há como definirmos um posicionamento soteriológico. Nessa complexidade, podemos encontrar calvinistas e outros posicionamentos soteriológicos dentro do movimento. Todavia, podemos definir um posicionamento baseado em uma denominação de grande expressão do movimento, que no caso citaremos a Assembleia de Deus.
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma que “essa salvação é um ato da graça soberana de Deus pelo mérito de Jesus Cristo e não vem das obras” (CGADB, 2017, p.109). A declaração assembleiana é bem clara e defende que a salvação não é mérito humano, mas é mediante a maravilhosa graça de Deus. O pelagianismo ou semipelagianismo não têm base assembleiana. E a declaração de fé assembleiana complementa afirmando que “a salvação está disponível a todos os que creem. Sim, todos nós, sem exceção, podemos ser salvos através dos méritos de Jesus Cristo” (CGADB, 2017, p.110). A definição da denominação pentecostal é clara quanto ao posicionamento arminiano, pois o arminianismo defende que a expiação em Cristo Jesus é oferecida para todos (João 3:16). Esse posicionamento chamamos de expiação ilimitada. Se a base doutrinária da salvação da teologia assembleiana é arminiana, qual seria a razão de crer que a salvação em Cristo Jesus é para todos? Fontes responde que “por três razões: (1) todos pecaram (Romanos 3:23); (2) a realidade do pecado é universal; e (3) Deus deseja que todos sejam salvos (1 Timóteo 2:4)” (FONTES, 2020, p.95).
O Deus soberano demonstra o Seu amor amplo para a humanidade, mas só será salvo quem corresponde a sua graça. A teologia assembleiana se identifica com o arminianismo não só no posicionamento da expiação ilimitada, mas defende que somos salvos pela graça de Deus. Um dos axiomas da Reforma Protestante que é “somente pela graça”, é tema que não pode ser ignorado nos púlpitos das igrejas. Somos salvos pela graça de Deus (Efésios 2:8). Na essência da doutrina da graça, os pentecostais arminianos estão em igualdade com os nossos irmãos calvinistas e luteranos. Os pentecostais destacam a ação do poder do Espírito Santo, porque Deus continua a agir em nossos dias. Mas há também conversão de vidas, porque a graça se manifesta entre os pentecostais. Concluo esse artigo afirmando que os pentecostais arminianos são legítimos filhos de Deus, que honram a palavra de Deus!
Referências bibliográficas: