Arrozbras: A Polêmica Intervenção de Lula no Mercado de Arroz

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Silo de grãos em propriedade de Bagé, no Rio Grande do Sul.| Foto: Wenderson Araujo/Divulgação/CNA Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/erro-historico-e-abuso-politico-as-criticas-ao-leilao-de-arroz-de-lula/ Copyright © 2024, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

Especialistas Criticam Medida do Governo de Gastar R$ 7 Bilhões em Importação e Comercialização Estatal, Alegando Erros Históricos e Abuso Político em Ano Eleitoral

A decisão do governo Lula de gastar R$ 7 bilhões para comprar arroz no mercado internacional, rotular com marca própria e despejar no mercado interno está sendo amplamente criticada por analistas, produtores e políticos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) marcou o primeiro leilão para quinta-feira (6), mas a medida já está sendo considerada um exemplo de como não conduzir a política agrícola de um país.

Segundo Antônio Cabrera, produtor rural e ex-ministro da Agricultura, a decisão prejudicará os produtores, principalmente no Sul do país, desorganizando o mercado e aumentando os preços. “Se for pensar numa jogada em que tudo está errado, é exatamente essa do governo. Vai prejudicar os produtores, o Sul, o país, vai desorganizar o mercado e aumentar os preços. Mas a agricultura se vinga no ano seguinte. O pior é o desestímulo que vai causar para o plantio da próxima safra”, avalia Cabrera.

Ação judicial e reação política

A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) já entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a intervenção estatal. A CNA argumenta que a importação pode desestruturar a cadeia produtiva, criar instabilidade de preços e prejudicar produtores locais, desconsiderando os grãos já colhidos e armazenados.

Parlamentares do partido Novo também reagiram, apresentando uma representação ao Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a anulação da compra de 300 mil toneladas pela Conab, citando uma nota oficial do governo gaúcho que nega qualquer risco de desabastecimento do produto.

Repetição de erros do passado

Para analistas do mercado, a ação intervencionista revela que o governo Lula não aprendeu com os fracassos passados. No fim dos anos 1980, a propaganda da campanha de Fernando Collor à presidência explorava imagens de arroz apodrecendo nos armazéns estatais da Conab e carne importada contaminada pelo acidente nuclear de Chernobyl. “O resultado foi catastrófico. Tomamos a decisão de que o governo não iria mais importar alimentos e que tal iniciativa, se necessária, seria tomada pela iniciativa privada”, relembra Cabrera.

A política intervencionista dos governos anteriores fez com que muitos produtores migrassem para commodities de exportação, fugindo da imposição de preços dos itens da cesta básica, que o governo Lula adota como bandeira política. “Muita gente já não vai plantar mais arroz, porque se sentiu inseguro. Se for para cometer um erro, vamos tentar cometer um erro novo. Mas o governo está repetindo, e isso, desculpa a expressão um pouco forte, é uma estupidez”, diz Cabrera.

Compra de arroz com marca do governo: abuso político

Outro aspecto criticado é o componente demagógico e populista da medida, em ano de eleições. “Nunca vi um abuso político como esse. O governo vender arroz no mercado, embalado com marca própria, às vésperas de uma eleição, é algo inacreditável. Eu diria que um TSE [Tribunal Superior Eleitoral] sério deveria dar 24h para o governo se explicar”, enfatiza Cabrera.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PL-PR), também criticou a medida como abuso de poder político. O colunista da Gazeta do Povo J.R. Guzzo chamou a iniciativa de “Arrozbras lulista”, comparando-a a ações de “ditaduras subdesenvolvidas de terceira categoria”.

Justificativas questionáveis

Para justificar a intervenção, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o presidente da Conab, Edegar Pretto, afirmaram que houve aumento de 30% a 40% no preço do arroz no último mês. No entanto, um estudo da Cogo Inteligência em Agronegócios desmente essas afirmações com dados da própria Conab.

Alta do arroz e o impacto da Índia

O preço do arroz já estava elevado antes das enchentes, principalmente devido à Índia, que em julho de 2023 barrou os embarques após uma seca, provocando altas globais. Desde então, o arroz beneficiado da Tailândia subiu de US$ 453 a tonelada FOB para US$ 664, uma alta de 46,5%. No Paraguai, principal fornecedor de arroz para o Brasil, o arroz beneficiado tipo 1 subiu de US$ 473 para valores ainda mais altos, agravando a situação.

Conclusão

A “Arrozbras” de Lula é vista como um erro histórico, um abuso político e uma medida que pode desorganizar o mercado agrícola brasileiro, causando desestímulo ao plantio e prejudicando produtores locais. A reação de diversas entidades e políticos mostra a gravidade da situação e os possíveis impactos negativos dessa intervenção estatal no setor agrícola.

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