Missionário brasileiro relata clima de tensão após golpe de Estado em Madagascar

0

As crianças estão no centro da obra missionária - Foto: Arquivo Pessoal

Luís Fernando Basso atua há 13 anos na região de Betroka, no sul de Madagascar, e fala sobre os impactos econômicos e desafios na evangelização do povo Bara, no sul do país africano

Recentemente, em 14 de outubro de 2025, Madagascar viveu um golpe de Estado após protestos massivos contra o governo do presidente Andry Rajoelina. A crise política culminou na fuga do presidente, em sua destituição pela Assembleia Nacional e na tomada do poder pelas Forças Armadas, agora lideradas pelo coronel Michael Randrianirina, que assumiu a presidência interina. Conhecido por suas belezas naturais, o país da África Central tem mais de 31 milhões de habitantes e enfrenta um cenário de instabilidade política e econômica.

Entre os que vivem esse momento está o missionário brasileiro Luís Fernando Basso, 44 anos, que atua há 13 anos na região de Betroka, no sul de Madagascar — uma área montanhosa, rural e isolada.

Enviado pela Missão para o Interior da África, em parceria com a Associação Missionária Evangélica Livre (AMEL), ligada à Igreja Evangélica Livre de Toledo (PR), Luís Fernando, ao lado da esposa, Janaíne, e dos filhos Benício, Timóteo e Tito, dedica-se à evangelização do povo Bara, grupo de tradição animista e resistente ao cristianismo.

Crise política e reflexos para os missionários

Rajoelina, que iniciou sua trajetória política após uma carreira como DJ, chegou ao poder em 2009 e voltou à presidência em 2016. Com o tempo, porém, seu governo passou a enfrentar denúncias de corrupção, autoritarismo e repressão a opositores e jornalistas. O golpe de 2025, segundo o missionário, reflete o esgotamento da população diante de um governo cada vez mais opressor.

Missionário brasileiro relata clima de tensão após golpe de Estado em Madagascar
Luís Fernando Basso e, ao fundo, as crianças que participam do programa de esportes – Foto: Arquivo Pessoal

“Agora, quem assumiu foi um general do Exército. Ele prometeu estabilizar o país e realizar eleições em dois anos, mas já há sinais de resistência em cumprir o acordo”, relata Basso. “Madagascar rompeu relações com a França e a União Africana, e vem se aproximando da Rússia e da China. Isso pode gerar consequências sérias.”

Para os missionários estrangeiros, o momento é de cautela. “Há uma percepção de animosidade contra brancos, e isso pode representar riscos de roubos ou sequestros. Além disso, a crise fez o dólar disparar, elevando a inflação e encarecendo o custo de vida — o que afeta diretamente quem depende de sustento enviado do Brasil”, explica.

Evangelização entre o povo Bara

Os desafios vão além da política. O povo Bara, de tradição animista e seminômade, vive em regiões remotas e resiste à mensagem cristã, marcada por traumas históricos com a colonização francesa.

“Eles lembram da exploração e das atrocidades cometidas em nome do cristianismo e associam o Evangelho à religião dos brancos”, conta Luís Fernando, que utiliza o filme “Jesus” como uma poderosa ferramenta de evangelização, que já foi transmitido em 580 vilas. 

Apesar das barreiras, há frutos visíveis. O trabalho missionário da família Basso já ajudou a plantar 18 igrejas reformadas, apoia pastores locais e mantém escolas de alfabetização e discipulado com mais de 200 crianças matriculadas e 1.200 atendidas em programas de evangelismo. Há ainda o programa de esportes, que funciona às quartas-feiras e aos sábados, voltado para meninas e meninos, que já conta com número significativo de inscritos. 

Missionário brasileiro relata clima de tensão após golpe de Estado em Madagascar
O filme “Jesus” tem sido uma importante ferramenta de evangelismo – Foto: Arquivo Pessoal

“Essa geração impactará Betroka e todo o povo Bara”, afirma Luís Fernando, que revela: “Hoje, já há pastores Bara pregando entre seu próprio povo. Deus está movendo, mesmo em meio às dificuldades”. 

Pedidos de oração e apoio

A realidade em Betroka é marcada pela extrema pobreza, o que representa uma grande vulnerabilidade social, o que é um grande desafio, além da instabilidade política. “As terras são consideradas sagradas, o que limita a agricultura. Falta água, comida e estrutura, sem contar as crenças espirituais ligadas aos ancestrais, mediadas por feiticeiros locais”, revela Basso.

Mesmo assim, o missionário afirma que a fé continua firme. Ainda assim, a equipe missionária segue firme. “Temos visto frutos: baras convertidos, pastores locais sendo formados e até jovens estudando para servir suas comunidades. Mas precisamos de oração e apoio. Cada doação, cada intercessão faz diferença”, afirma.

Segundo Basso, a maior necessidade é oração, para que Deus quebre barreiras e converta corações. “Quem desejar ajudar também pode apoiar o ‘Projeto Cooperadores’, que fornece alimento, transporte, material evangelístico e treinamento para pastores e evangelistas locais”, conclui o missionário.

30 de outubro de 2025-Comunhão. Por Patricia Scott

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *