Lutero e a origem da árvore de Natal: estudiosos explicam contexto
Gravura “Lutero e família na noite de Natal de 1536, em Wittenberg”, de Carl August Schwerdgeburth.
O uso da árvore de Natal como decoração costuma gerar debates entre evangélicos. Enquanto parte considera a prática legítima, outros a associam a costumes pagãos. Pesquisadores, no entanto, apontam que a tradição tem origem em contextos cristãos da Idade Média e não no paganismo.
De acordo com um artigo publicado pela Deutsche Welle, o símbolo surgiu a partir dos autos medievais, peças teatrais encenadas por católicos europeus. Nessas representações, era utilizada a chamada “árvore do bem e do mal” para retratar a narrativa da queda de Adão e Eva, geralmente apresentada no dia 24 de dezembro.
O historiador e etnólogo Alois Döring, especialista em costumes e folclore, explicou que a árvore era decorada de forma simbólica. “Do lado que simbolizava a redenção, a árvore era enfeitada com maçãs e outras guloseimas; do outro lado, pecaminoso, não havia nada.”.
Adoção entre protestantes
Segundo Döring, o hábito de decorar árvores dentro de casa no Natal foi adotado inicialmente por famílias protestantes na Alemanha, por volta do ano 1800. O pinheiro enfeitado tornou-se, naquele contexto, uma tradição associada ao luteranismo.
“Os católicos zombavam da admiração deles por Lutero da mesma forma que do costume da árvore de Natal”, relatou o historiador. À época, o protestantismo chegou a ser ironicamente chamado de “a religião da árvore de Natal”.
Martinho Lutero
Alguns estudiosos associam a tradição a Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante. A autora Dorothy Haskins, da organização Visão Mundial, afirmou que o reformador teria criado o costume como uma forma de celebrar o nascimento de Jesus com seus seis filhos. Segundo seu relato, Lutero teria se inspirado nas árvores que permaneciam verdes durante o inverno rigoroso e levado um pinheiro para casa como símbolo de esperança e luz.
Conforme Haskins, o gesto serviria para ensinar às crianças que, em meio à escuridão causada pelo pecado, Deus enviou Jesus para trazer luz e redenção. Essa narrativa também aparece em seu livro infantil As Crianças de Lutero Celebram o Natal.
Interpretações históricas
O Dr. Jim Denison, cofundador do grupo de mídia cristão Denison Forum, afirmou que a tradição inclui a decoração da árvore com velas. Em participação no The Pure Flix Podcast, ele disse: “Ao colocar velas nas árvores, Martinho Lutero queria replicar aquela bela natureza. Jesus morreu em uma árvore, morreu em uma cruz. A árvore de Natal era algo da natureza para nos levar ao Deus da natureza”.
O historiador Alois Döring, porém, contesta essa versão. Para ele, a associação direta entre Lutero e a árvore de Natal é uma lenda, difundida principalmente por uma gravura do artista Carl August Schwerdgeburth, intitulada “Lutero e família na noite de Natal de 1536, em Wittenberg”. “Lutero jamais se sentou ao lado de uma árvore de Natal”, afirmou.
Döring destacou que Lutero, que viveu entre 1483 e 1546, provavelmente não conheceu o símbolo tal como é entendido hoje, já que o uso da árvore dentro das casas só se popularizou na Alemanha no início do século 19.
Hábito internacional
No final do século 19, a árvore de Natal deixou de ser uma tradição restrita a comunidades protestantes e passou a ser adotada por famílias de diferentes religiões em diversos países. Segundo Döring, a disseminação ocorreu após a guerra franco-prussiana de 1870, quando, por ordem de líderes militares alemães, árvores de Natal foram colocadas em trincheiras como símbolo de vínculo com a pátria.
Nos Estados Unidos, a primeira árvore de Natal pública foi montada em 1910, na cidade de Nova York, marcando a consolidação do símbolo como parte das celebrações natalinas em âmbito internacional.

